Blog Della

Blog pessoal da Bru desde 2012. Considere que escrevi alguns posts no auge da minha adolescência.

Bruna Della
25 anos. Tendo crises de identidade, sexualidade e pedi demissão para viver um sonho que ainda não sei identificar. Bruxa, artista, cartomante e estudante de arteterapia. Compartilhando desde os 15 anos minhas experiências em forma de textos, fotos e vídeos.

Artistas Brasileiras e feministas para conhecer

     Não poderia passar a semana do Dia da Mulher sem mencionar as artistas desse país que incomodaram muita gente. Acabei selecionando algumas das artistas feministas que mais me provocaram para apresentar a vocês, a lista não é extensa porque eu sei que vocês não leem posts pequenos, quem dirá postagens grandes, né não?!

Leticia Parente


    Falecida em 1991 no Rio de Janeiro, mas deixou sua marca registrada sendo uma das pioneiras da videoarte no Brasil. Tive contato com a artista quando pesquisei aleatoriamente sobre artistas brasileiras que usavam o próprio corpo para produzir arte. Nunca havia ouvido falar na bonita. Fiquei com ela na cabeça após ver o vídeo que anexo aqui, chamado "Marca Registrada", 1975, uma performance onde a artista costura seu próprio pé (talvez eu tenha tido alguns pesadelos com essa imagem), no vídeo a performer mistura performance, palavra, costura e poética, de forma a costurar a palavra 'Made in Brazil". Tanto esta obra quanto no vídeo "Tarefa 1", obra onde a artista deita-se em uma tábua de passar roupa e uma mulher com roupas pretas passa a roupa branca no corpo da perfomer, além do video "Preparação 1" onde ela cola esparadrapos ao se preparar para sair, me trazem em mente a questão da objetificação do individuo, sem deixar de trazer em minha cabeça várias questões de gênero que talvez não viriam em minha mente caso fosse um performer homem.

A questão do corpo na arte vem sendo discutida de forma exaustiva nestes últimos anos. No Brasil, desde o “quase corpo” da obra neoconcreta, que via na obra de arte um “prolongamento da corporalidade”, aos happenings e performances dos anos 60, em que o corpo do artista se tornou um dos principais personagens por meio dos quais as obras vieram a se revelar como um processo de produção de subjetividade. Trata-se, antes de mais nada, de mostrar que o corpo é, por natureza, algo que escapa aos modelos de racionalidade e disciplinaridade cartesianos, iluministas, fordistas, tayloristas. O corpo é fundamentalmente da ordem da produção, do desejo, do inconsciente, algo que está sempre escapando ao processo de reificação do corpo como dado, como ordem, como modelo. E mais, o corpo não é espaço, visto que é processual, não apenas porque se inventa e se reinventa sem cessar, mas porque vai até onde vão os nossos hábitos e desejos. (Performatus)
    A artista não produziu apenas videoarte, mas também obras de Xerox, Instalações, fotografias, artes postais e produções audiovisuais. Formada em química, acabou apaixonando-se por arte, expôs no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) em 1976 e da 16ª Bienal Internacional de São Paulo em 1981. Recebeu grande influencia de uma de suas professoras, Anna Bella Geiger, com quem desenvolveu alguns trabalhos artísticos.

Celeida Tostes

    O barro, material utilizado para seu trabalho, nunca lhe fora estranho pois desde pequena tinha contato com ele. A artista Celeida foi criada por seus avós em uma fazenda Cachoeira de Macuco – interior do estado do Rio de Janeiro, nascida em 1961. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), se formando em 1955, a artista ganhou bolsa de estudo do governo norte-americano e parte para a University of Southern California, é visível que ao pesquisar sobre a artista ela procura sempre se especializar e ampliar seus conhecimentos. Além disso durante quinze anos coordena o Projeto de Formação de Centros de Cerâmica Utilitária nas Comunidades da Periferia Urbana Morro do Chapéu Mangueira.

Durante sua trajetória artística, explorou temas de caráter antropológico e arqueológico, assim como temas vinculados ao feminino. (...) Artista de muitas idéias e de paixão pela escultura, sua arte esteve sempre voltada para a simbologia da vida. Algumas figuras emblemáticas norteiam a obra de Celeida, como o ovo, o falo, a vagina, rodas feitas de barro. Estas figuras eram fartamente instrumentalizadas pela artista em suas produções. O ovo, por exemplo, utilizado como figura síntese do ciclo da vida e esteve muito presente na obra da escultora. Através da argila materializava suas emoções e inquietações. Na expressão de sua arte, recupera formas primitivas e recheadas de simbolismo; muito de sua obra gira em torna da eternidade do feminino. (Mulher 500)

    A imagem que colocamos para apresenta-la representa uma performance chamada "Passagem", que nos apresenta o principio da vida, o ovo que se rompe ao nascimento. Quando assisto me vem a questão da criação do ser, da ideia de que viemos do barro. Li também que a artista propunha aos alunos e em suas criações, a utilização de materiais improváveis como a fermentação do lixo para criar-se massa. Não entendo o barro apenas como uma ferramenta/suporte para suas cerâmicas, mas também como um material que é pensado, parte do processo. No artigo que cito abaixo é possível ler sobre o movimento do feminismo nos anos 70, onde as artistas questionavam e exigiam espaço na arte, espaço para pensarem suas obras, terem controle sobre seus corpos, organizarem exposições etc. Ver uma obra do nascimento de uma mulher, que sai de um ovo feito de barro por outras mulheres, me traz uma interpretação também que cai para esse lado, mulheres que geram mulheres, mulheres que modelam mulheres.

Em Passagem a artista convida à sedução do olhar; seu corpo feminino na experiência estética toma a maleabilidade da argila, e ambos se transformam na criação. Assim, o corpo e a arte confundem nossos olhos: onde está o corpo da artista? onde está o barro? é uma escultura de barro ou uma mulher? é um ritual? nascimento ou morte? Rico de sentido, inesgotável como a sua expressão, Passagem possibilitou várias interpretações. Ao suscitar diferentes emoções, percebe-se em sua obra de arte um interstício que compõe com o outro. (Isabel Henning)
   No canal da Raquel Silva é possível assistir a um documentário sobre a artista:




Márcia X


    Ouvi sobre a Márcia em uma aula na faculdade, não me lembro quem mencionou mas lembro-me que a ideia provocadora de usar terços para desenhar vários pênis em um ambiente, criando assim uma outra imagem foi uma das coisas que me tiraram da caixinha do conceito "arte" que me perseguia até então.

Adotou o X. de seu nome quando realizou performance em parceria com Alex Hambúrguer na Bienal do Livro, em 1985, no Rio. Vestida com duas “não roupas”, uma capa preta e uma outra transparente e sem nada por baixo Márcia Pinheiro despiu-se até ficar nua. Na época a reação da estilista homônima dizendo dedicar-se a vestir e não despir pessoas fez com que a artista adotasse Márcia X. Pinheiro e posteriormente Márcia X. (Márcia X)
    A artista não cria apenas performances, mas também instalações, videos e objetos. Em sua primeira instalação individual, chamada Ícones do Gênero Humano, no Centro Cultural Cândido Mendes, no Rio. A galeria no primeiro dia tinha coquetel, iluminação, livro de assinaturas, a galeria em si, tudo que uma exposição tem, mas estava vazia, sem obra alguma. Nesse dia ela fotografou e filmou os que estavam presentes e no dia seguinte expôs as fotografias e videos do primeiro dia. Sério, que gênio! Questionava  de forma humorada o papel do artista e da arte. Afinal, quem torna arte uma objeto? 
   X diz que em meados dos anos 90 "realizei instalações e performances que têm como principal estratégia transformar objetos pornográficos em objetos infantis e objetos infantis em objetos pornográficos, fundindo elementos que estão situados por convenções sociais e códigos morais em posições antagônicas", um desses trabalhos é chamado de “Os Kaminhas Sutrinhas” a artista utiliza bonecos que engatinhavam para lhes dar uma conotação sexual.
   O já comentado "Desenhando com terços" foi uma instalação criada em Julho de 2000 na Casa de Petrópolis - Instituto de Cultura e foram utilizados 500 terços. Esta obra foi censurada e teve uma grande repercussão, foram levantados vários debates, incluindo quais eram os limites entre arte contemporânea e religião. É importante ressaltar que obviamente iria causar comoção entre brasileiros, vivemos em um país onde o cristianismo é predominante, principalmente a igreja católica que conduziu durante muitos anos o moral e algumas condutas sexuais, espirituais e sociais.

No trabalho “Desenhando com Terços”, utilizo centenas de terços católicos para construir desenhos de pênis no chão. O público acompanha o desenvolvimento deste processo que só termina quando o chão fica totalmente coberto pelos desenhos. A instalação completa adquire a aparência de uma grande trama abstrata e permanece em instalação. (Márcia X)
 Para Basbaum a performance “arranca de um dos símbolos religiosos algo que está ali inscrito (o perigo da carne) e que os imperativos morais da religião preferem ocultar, privilegiando o espírito desencarnado

     Nesta lista previ que iria apresentar seis ou oito artistas, mas os trabalhos são tão ricos e há tanta informação que a postagem ficaria gigantesca. Além de que, fiquei com água na boca de me aprofundar mais sobre essas artistas já citadas, além de querer ter mais espaço para mencionar as outras.
 Já conheciam as artistas? Conhecem alguma outra com trabalhos tão provocativos quanto? Comente!

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