Blog Della

Blog pessoal da Bru desde 2012. Considere que escrevi alguns posts no auge da minha adolescência.

Bruna Della
25 anos. Tendo crises de identidade, sexualidade e pedi demissão para viver um sonho que ainda não sei identificar. Bruxa, artista, cartomante e estudante de arteterapia. Compartilhando desde os 15 anos minhas experiências em forma de textos, fotos e vídeos.

Voz: Partitura da Ação - Trabalho de Voz 1 - Resumo e Resenha

     Durante o 2º semestre do curso técnico de teatro da Escola Nacional de Teatro, tivemos a disciplina de voz com a atriz e professora Nathalia Quadros. Um dos trabalhos avaliativos era a leitura do capítulo 1 do livro "Voz: Partitura da Ação" escrito por Lucia Gayotto e a escrita de uma resenha/resumo.

   De antemão já indico que adquiram o livro e tenham em casa, é um livro perfeito para quem quer compreender o uso da voz para atores e perfeita para professores trazerem insights para a atuação a partir da voz. Eu comprei o meu em uma promo nesse link.



    Eu não fazia a menor ideia de quem era Lucia Gayotto e indo em diversos espetáculos onde a qualidade vocal se destacava, percebi que a preparação vocal era dela. A conheci pessoalmente assistindo AnonimAto da Cia. Mugunzá e comecei a acompanha-la. Hoje estou realizando um curso oferecido gratuitamente pelo Sesc Carmo chamado "Entre Voz – Saúde e preparação vocal para atores, atrizes e artistas" ministrado pela rainha, onde entendemos melhor o sistema fonador, recursos vocais e algumas práticas que eu compartilho no meu tiktok quando dá tempo.

   Destaco que o conteúdo intelectual desse post está reservado e não deve ser copiado sem as devidas referências.

    Sem mais delongas, a partir do próximo paragrafo se inicia o trabalho enviado para minha professora de voz.


    O capítulo 1 com o nome Ação Vocal no geral fala sobre a busca do ator em realizar uma ação vocal magnética e de acordo com o personagem e que seja capaz de participar da trajetória do espetáculo, e sua importância. 

    Nos deparamos com os componentes de uma ação vocal e como ela pode e deve ser viva dentro do trabalho do ator, acompanhada de técnicas teatrais, construção, processo, saúde vocal e muito mais. Irei explorar os subtítulos para as informações ficarem mais organizadas, comunicando as informações que mais me tocaram e ampliaram minha percepção sobre o uso da voz.

UMA ESCUTA DA VOZ NO PALCO

    Nesse trecho do capítulo, a autora se debruça sobre as sensações do trabalho da voz na interpretação do ator. Uma voz que arrebata, convida para caminhos e completa a interpretação. A cada observar da voz, uma nova escuta é aberta, até que somos tocados pelas pausas, pela emoção, pela trama e nos damos conta do que é uma boa interpretação vocal.

A AÇÃO NA VOZ

    Às vezes os atores ficam engessados em um padrão vocal e não permitem que a voz seja viva, como ator é essencial nos mantermos em processo de experimentação vocal, desde a primeira leitura de texto, até os espetáculos. Ela diz que ”ouvir a dimensão criadora da voz do ator é um deixar-se afetar pela ação vocal.” (GAYOTTO, 1997, p.20). E informa que a ação vocal é constituída da seguinte forma:


  • Recursos vocais: tudo o que envolve a fala. E possui os recursos primários e resultantes, combinados expressam as intenções.
    •  Recursos primários: respiração, intensidade, freqüência, ressonância, articulação;
    • Recursos resultantes: projeção, volume , ritmo, velocidade, cadência, entonação, fluência, duração, pausa e ênfase.

  • Forças vitais: é a relação da nossa voz com o mundo, faz com que a voz saia instigada pelas sensações, afetos, vontades, desejos.

  • A VOZ DENTRO E FORA DA CENA

    O desejo de que o eco fosse uma companhia. (Pascoal da Conceição)

        Em cena o que se modifica são os recursos vocais do ator que são integrados à trajetória da personagem. Durante a construção dessa voz é necessário se permitir, se abrir a experimentação e não impor limites. É necessário haver uma preparação vocal para fundir as necessidades da personagem com a possibilidade vocal do ator, encontrando meios de juntar os recursos fisiológicos com as forças vitais.

        Esse encontro acontece tanto na voz do ator quanto na voz de não-atores, a diferença é que o ator trabalha em busca da construção de um personagem.

        O resultado dos recursos vocais fundidos com as forças vitais é a ação vocal, capaz de afetar o espetáculo e o espectador. 


    A PREPARAÇÃO DA VOZ NA CRIAÇÃO

        Trabalhar a voz para o teatro e ter saúde vocal são duas coisas que muitas vezes são trabalhadas separadamente, mas que deveriam ser pensadas e trabalhadas em conjunto.

        Existem semelhanças entre uma voz cênica e não-cênica, mas, algumas necessidades do teatro exigem ajustes específicos variando o personagem e espaço cênico.

        Uma das partes que mais me chama atenção do texto é a ênfase e os diversos lembretes para a voz viva. A voz do ator não deve refletir apenas um personagem enrijecido ou apenas acontecimentos, a voz deve ter movimentos vivos e portanto, pode ser adaptada conforme vive.

    @bru.della Voz para Atores: resumo dos exercícios que mais fazemos em aula 🎭🗣💬 #auladeteatro #professoradeteatro #teatro #atuacao #vidadeatriz #vidadeestudante #teatro #professoradearte #voz #actingskills ♬ som original - Bru Della

    O MOVIMENTO DA VOZ EM MOVIMENTO

         Assim como nosso corpo é capaz de experimentar infinitos movimentos, ritmos, pesos, fluência, assim pode nossa voz, como em uma brincadeira de movimentar. Mas, não basta apenas movimentar, é preciso traçar um objetivo para que o movimento não seja vago de significado.

    (...)O corpo é a parte visível da voz (oo.) A voz é o corpo invisível que opera no espaço. Não existem dualidades, subdivisões: voz e corpo. Existem apenas ações e reações que envolvem o nosso organismo em sua totalidade. (...) A voz é um prolongamento do corpo. (Eugênio Barba)

        Nesse trecho do capítulo, diversos diretores e preparadores vocais são mencionados, sempre apresentando pontos em comum e ressaltando a compreensão de que voz e corpo são um só, do peso das palavras em cena e como ela modifica a ação dramática, como flechas enviadas para o outro ator-personagem que o afeta se ficar parado, se desviar ou se errar o alvo, também é citado que normalmente o ápice de uma projeção de voz também é acompanhado de um momento bastante emotivo do personagem. 

    •  As palavras devem vir acompanhadas de contexto;
    •  A ação vocal deve ser construída em harmonia com a cena;
    • Caso haja uma discordância entre a voz e o personagem acontece uma estereotipação;
    • Realizar ação vocal amplia o uso dos recursos vocais na criação.

    AS CARACTERÍSTICAS CÊNICAS NA AÇÃO VOCAL

         Esta parte do livro, a autora menciona o trabalho de Stanislavski, sua importância e como o seu trabalho, especificamente no espetáculo “As três irmãs", se mantinha vivo, mesmo depois de tanto tempo em cartaz. A autora menciona algumas características cênicas propostas pelo diretor e como a voz afeta e pode ser afetada em cada uma delas.

    • Ação Física: Ação física e vocal devem ocorrer juntas, em comunhão e devem ter um objetivo.
    • Objetivo e superobjetivo: Um superobjetivo é resultado de vários objetivos atingidos durante o percurso, durante um espetáculo. O texto ao ser falado atinge um objetivo e também se caminha para a solução do superobjetivo.
    • Situação: A situação é o presente, onde, quando, com quem, como, por quê. O ator deve estar consciente da situação para expressá-la. A voz do ator também deve imprimir a situação.
    • Intenção: A intenção dos personagens, seu querer, gera movimento no corpo e também na voz. O querer é explícito nas falas, nas curvas melódicas e recursos vocais.
    • Subtexto: Dizer o texto não é um vômito de palavras, as palavras devem ser enraizadas, analisadas e deve ser reescrito por baixo dos panos, um outro texto que é dito pelas mesmas palavras do texto escrito, mas com intenções diferentes imprimidas em sua emissão, trazendo mais camadas e possibilidades para o personagem.

    FALAR É AGIR
         O processo de criação demanda alguns trabalhos, instigar, estudar e quando o ator já está sedento por expressar seu personagem com o corpo (voz também parte do corpo), as palavras e ações vocais são utilizadas para alcançar os objetivos.
        O texto escrito serve como guia para a construção vocal do ator. A ação vocal torna-se estratégia para alcançar um objetivo e utiliza-se de diversos recursos para isso.
        É preciso viver a fala e não pensar antes de falar, a fala deve ser o pensamento e não meramente sua representação.
       O ator pode utilizar da imaginação e imagens-sensações para excitar a atuação e não tornar mecânica a voz.
       Ação vocal deve ser fluxo das forças vitais e não ser travada com pensamentos, receios e vontades de mostrar e demonstrar do ator.
        O capítulo chega ao fim com uma pincelada sobre o termo partitura vocal.
        Domínio técnico + Trabalho estético de criação vocal, a serviço do trabalho de criação e reflexão do ator, define um jeito de trabalhar as ações vocais do ator, que são registradas nessas tais partituras vocais.

         Finalizo dizendo que eu sou uma atriz com medo de usar a voz, medo de estragar o trabalho em construção pelo mau uso da ação vocal. Entender as possibilidades da voz, me tira o medo e me coloca em estado de curiosidade para experimentar. Ler Édipo Rei durante as aulas de Análise de texto e procurar objetivos, intenções, subtextos e trazer camadas da interpretação na voz colaboram para que as ideias trazidas no livro sejam colocadas em prática.
        O capítulo é muito bom, a autora traz exemplos concretos, mas também traz palavras que instigam a imaginação e beiram a poética. Senti-me analisando as pétalas de uma flor, com muita delicadeza. Nunca tinha pensado na delicadeza do uso da voz e a condução e escolha da autora nos convida a isso.

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