Blog Della

Blog pessoal da Bru desde 2012. Considere que escrevi alguns posts no auge da minha adolescência.

Bruna Della
25 anos. Tendo crises de identidade, sexualidade e pedi demissão para viver um sonho que ainda não sei identificar. Bruxa, artista, cartomante e estudante de arteterapia. Compartilhando desde os 15 anos minhas experiências em forma de textos, fotos e vídeos.

Teatro: A Tempestade - TUCARENA

Fonte: Folha

Crítica ao espetáculo “A Tempestade” em cartaz no TUCARENA de 21 de Agosto a 22 de Novembro.


Prefiro iniciar dizendo sobre o cenário e conforme as ondas da tempestade, detalhar-me sobre outros pontos que fazem com que tenha sede por voltar e deslumbrar-me sobre a direção de Gabriel Vilella.
Nunca havia entrado em um teatro de arena, muito menos para assistir Shakespeare e meu coração palpitou ao poder sentar-me próxima ao palco. Poder entrar e darmos de cara com todo o cenário e tudo o que irá ser usado para as cenas foi ótimo, além da bela iluminação criada pelo Wagner Freire que nos oferece a sensação de mar. Os quinze minutos antes do terceiro sinal foram especialmente dedicados a observarmos detalhes (de longe) dos objetos em cena. O primeiro item que nossos olho captaram foi a cama, uma cama cheia de detalhes que me despertam curiosidades até agora. Nesta cama, temos bolas de vidro que tem todos os signos dos zodíacos escrito, e fiquei perguntando-me o motivo, quando ao final da peça, percebo que és tudo relacionado a uma linha tênue entre o material e o imaterial. Temos a Iemanjá Deusa dos Mares, vasos de barro (que são utilizados pelos atores como ferramenta para a voz), sombrinhas que são colocadas em todo o cenário e utilizada pelo Próspero (Celso Frateschi) e que ao meu ver, me remete a magia, ao mistico. Um barco pequenino que com um pano azul nos traz a imaginação tanto as brincadeiras de criança quanto a dura realidade de uma tempestade que fortemente toma o barco e leva todos os personagens a Ilha de Próspero, onde o mesmo já se encontra com sua filha Miranda (interpretado por Leticia Medella).
Percebemos o dedo, um polegar bem grande por sinal, do diretor Gabriel Vilella desde o início da peça quando podemos ouvir músicas brasileiras, que cantadas e trabalhadas nos arrepiam e nos envolvem. Consigo claramente fazer uma relação do texto de Shakespeare ao nosso Brasil, nossas raízes. É como se a peça inteira fosse feita em uma de nossas ilhas, com um toque barroco forte porém bem singelo do sangue mineiro. Ao contrário do que esperava, sou surpreendida pelas canções tão calmas e que parecem sussurrar em meus ouvidos, ao contrário do que esperava por se tratar de uma tempestade, esperava algo agressivo e difícil de ser entendido, mas foi tão claro e tranquilo quanto a fúria das ondas geradas através da tempestade criada pelo Ariel. Uma surpresa boa, com músicas ao vivo tocada pelos próprios atores.
Fonte: Gabriel Villela Homenagem
Ariel e Caliban, eis que chego em dois personagens marcantes, mas não apenas pela grande atuação de Chico Carvalho como Ariel e de Helio Cicero como Caliban. Para mim, essas duas personagens são uma das mais intrigantes e curiosas e que me retomam a linha tênue da qual citei anteriormente: o imaterial, Ariel, em forma de espirito, com asas, mágia, misticismo e tudo aquilo da qual não é possível ver aos olhos dos mortais e o material, trazido pelo Caliban, com suas pernas e mãos feitas de vasos de barro, que aprendeu a língua dos humanos graças a Miranda, ele me remete aos índios, aos tempos da colonização, és um ser estranho, diferente do que nos é comum, um ser cheio do desconhecido pela maioria, pelos “colonizadores” que é facilmente encantado por quem quer que vos chegue com algo novo e logo é utilizado como escravo, lhes ensinam uma nova língua, lhes dizem o que fazer, no que acreditar. A direção, o figurino, maquiagem, interpretação e todo o trabalho da produção são incríveis e tem sua importância mas o que marca mais e o que me remeteu a essas interpretações e intrigante curiosidade com toda a certeza foi a magnitude do escritor: Shakespeare, quanto mais estudamos, mais nos apaixonamos. Ambos os personagens, passam toda a história desejando serem livres.
Chegando próxima ao enredo, posso agora lhes contar mais a fundo sobre o que a história nos conta: tudo gira em torno do poder, o Duque de Milão perde seu trono e acaba indo para a Ilha de Próspero. Com sua mágia e com a ajuda de Ariel, ele coloca em um navio todos aqueles que tiveram culpa na usurpação de seu poder para lhes vingar, terminando todos em algum canto da ilha para que o mesmo brinque e faça valer sua vingança e a volta ao poder. Ao final, em nome da paz, perdoa a todos e os liberta da loucura que tomou a todos durante a chegada na ilha.
Acho difícil escolher personagens principais em uma peça que cada personagem é essencial para a metáfora do texto e para a finalização do espetáculo. Próspero era quem tinha o poder sobre todas as outras ações da peça, Ariel seguia suas ordens e com suas mágicas era quem fazia acontecer as ações desejadas pelo primeiro, a Miranda senti que era mais uma conduzida, por mais que fora de todos aquelas ambições pelos tronos, acabava por ser conduzida pelos desejos de seu próprio pai, Ferdinando se apaixona por ela como foi solicitado. Estéfano, Caliban e Triculo formam o trio mais cômico do espetáculo, senti que os atores estavam confortáveis e felizes ao interpretarem estes personagens, porém me senti um pouco cansada com algumas cenas do trio (talvez ansiando por ver o romance novamente, me apaixono fácil pelos casais), Antonio, Alonso, Sebastian e Francisco nos remetem novamente a personagens bem conhecidos: o ambicioso, o rei, o que é facilmente influenciado e o certinho, creio que estes são fundamentais para o resultado final. Por isto, debruço sobre Miranda, Próspero e Ariel, que ao meu ver são os personagens que mais influenciaram ao todo do espetáculo.

Fonte: ArteView
Ariel, um espirito assexuado que com toda a certeza é o predileto da maioria de quem o assistiu. O ator Chico Carvalho aproveita de toda a simpatia do personagem para conquistar o público assim que entra. Com um tom cômico mas por vezes trágico, nos afeiçoamos e torcemos para que ele seja livre rapidamente, porém quando este o é e sai de cena, sentimos nossos corações se apertarem de saudades do seu jeito singular.

Fonte: Isto É
E como não poderia deixar de falar da única mulher do elenco? Leticia Medella, que com sua voz consegue se destacar ao meio de tantos homens em cena. Quando está começava a cantar durante sua interpretação a Miranda, senti arrepios e pude ver o sorriso na boca de todos que a estavam assistindo. Belíssima interpretação, belíssima voz, belíssima personagem. Ao assistir não conseguia imaginar como seria a atriz, sem ser a própria Miranda, me fez acreditar que aquela personagem era tão viva quanto a própria pessoa que a criou.
Fonte:Teatro Tuca
 Finalizo e dou total destaque ao Celso Frateschi, interpretando o Próspero que com tantos papéis magníficos em sua trajetória, respeitosamente nos mostra a magia do fazer teatral com tanta magnitude e inteligência, que me fez querer chorar ao final do espetáculo, quando este com toda a sua força e fraqueza do personagem, diz:
"Que expressão é essa, meu filho,De tamanho assombro? Alegre-se, rapaz.Nossos festejos terminaram; esses atores,Como já lhe dissera, eram apenas espíritos,E se dissiparam no ar, no impalpável ar;E tal qual a estrutura rarefeita dessa visão,As torres altivas, os palácios suntuosos,Os templos solenes, o imenso globo,Sim, e todos que nele habitam, também irãoSe dissolver, como essa dança fugaz,Sem deixar qualquer vestígio. Somos feitos daMesma matéria dos sonhos; e nossas pequenas vidasSe encerram em um sono. Meu senhor, ando muito agitado.Tenha um pouco de paciência com minhas fraquezasE não permita que minhas alterações de humor o perturbem.Se for do seu agrado, retire-se para meus aposentosE descanse, enquanto caminho por uns minutosPara acalmar minha mente inquieta."


Solilóquio feito pelo Marcos Daud que nos faz querer aplaudir em pé ao ator, antes mesmo que a peça chegue ao seu fim ao som de “Suíte dos Pescadores”.

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