Blog Della

Blog pessoal da Bru desde 2012. Considere que escrevi alguns posts no auge da minha adolescência.

Bruna Della
27 anos. Capricorniana. Um cargo publico e passando por uma transição de carreira para arteterapeuta junguiana. Umbandista, artista, cartomante, atriz e professora de teatro. Compartilhando desde os 15 anos minhas experiências em forma de textos, fotos e vídeos.

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Disturbios alimentares e relação com meu corpo

  Não tenho memórias de ter sido magra, estou acima do peso e considerada gorda desde pequena. Não lembro a primeira vez que me senti bem comigo mesma e que o corpo começou a se tornar um incomodo pois parece que sempre foi assim, não me parece ter sido diferente ou o corpo e o peso não ter sido uma questão. Sempre foi uma questão. Lembro-me muito pequena, quase um bebê já desejando ter outro nariz, outra pele, outro cabelo, outro corpo.

 Tiveram momentos que eu admiti para mim mesma que me odiava, outros momentos que eu fingia não odiar, alguns momentos que eu admitia estar incomodada, outros que uma garra do útero surgia para mudar esse corpo e ir de encontro com algo que faça eu me sentir eu, mas também muitos momentos que me deram vontade de desistir e só aceitar que é assim, eu sou assim, mesmo não me reconhecendo nesse corpo que carrega minha alma.

 É olhar para cada uma das minhas fotos e não me reconhecer e quando comecei a perceber que como eu me imaginava não era o que aparecia nas fotos reveladas, que comecei a querer evitar tirar fotos. E quando, em alguns momentos -- das quais eu emagrecia mesmo que um pouquinho, eu começava a achar minha imagem interessante -- uma obsessão por fotografias e com o corpo. Confesso que talvez, o perceber meu corpo interessante veio a partir do momento que percebi que outras pessoas o achavam também, e juro, outras pessoas eu digo: homens adultos - pedófilos - desconhecidos da internet, foi a partir deles que percebi que meu corpo poderia ser elogiado e ter algo de belo e interessante, foi difícil quando meus pais me afastaram do perigo que era isso, porque eu estava viciada nos elogios, eles pareciam serem os únicos a me enxergar de baixo da gordura. A partir dos olhos deles, comecei a enxergar a possibilidade de me sentir bela. Horrível? Sim, mas eu não posso negar. Se não fosse a intervenção brusca e até agressiva dos meus pais, talvez, eu não estivesse aqui para compartilhar e viver tantas coisas, poderia ter sido estuprada, sequestrada, traficada, exposta e muito mais. Uma criança de 11 - 12 anos, insegura de si, excluída, sofrendo bullying e se sentindo deslocada e não vista/ouvida é um prato cheio para pedófilos na internet.

 Mas, hoje me encontro aqui: o maior peso que já adquiri na minha vida, cabelos quebradiços, meu ciclo menstrual desregulado, mas com coragem de falar sobre isso. Pela primeira vez, estou conseguindo de fato falar sobre e sustentar minhas falas, sustentar o que eu verdadeiramente acho sobre eu mesma.

 O mais interessante? Não consigo pensar o que penso de mim sobre os meus diversos amigos com corpos também obesos. Eu vejo beleza em todos eles. Vejo potência, vejo um mundo. Mas, eu não me vejo dessa mesma forma. Me sinto suja, me sinto não merecedora, me sinto inutil, brega e ridicula. Simplesmente, nada do que eu faço é merecedor de aplausos, quando sou aplaudida, quando recebo um elogio, pelo meu trabalho, estudo ou qualquer coisa, não me soa como um elogio sincero e genuíno, me soa como "dó", a pessoa está com "dó". Não me sinto merecedora de amor. Minhas lágrimas, medos e raivas são patéticas. Eu sou gorda. Parece que tudo o que eu faço é patético e ninguém me levará a sério.

 Porém, dentro de mim, existe uma chama de orgulho que nasce. Eu estou sendo sincera. Estou admitindo tudo isso pra mim mesma e não estou fugindo. Estou disposta a mergulhar na minha medíucridade, cheia de doces, compulsao, salgados e gordura. E perceber-me disposta a sentir e falar sobre, me diz que existe algo dentro de mim que quer ser transformado e não está mais aguentando me sentir assim. Há uma esperança que talvez adentrando no nojo que sinto de mim mesma, eu talvez possa mudar.

 Estou lendo "O vício da perfeição" em um grupo de estudos, mudei de terapeuta e sei lá, senti vontade de compartilhar esses sentimentos por aqui, quase que um documentário das verdades internas e dos meus processos, pra ser colocado no mundo, pra talvez a Bruna do futuro... não sei. 

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